Depois do desgaste criado com a alta de impostos sobre combustíveis, o governo de Michel Temer está em busca de uma boa notícia para apaziguar os ânimos exaltados de empresários e consumidores.
Esse afago deve ser dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que reduzirá os juros em um ponto percentual, para 9,25% ao ano, em reunião marcada para amanhã e quarta-feira.
A sinalização positiva ocorrerá a uma semana da votação na Câmara dos Deputados que pode autorizar o Supremo Tribunal Federal (STF) a prosseguir as investigações no caso JBS e afastar o chefe do Executivo por corrupção passiva.
Quem acompanha com lupa os movimentos da autoridade monetária, entretanto, está mais interessado nas sinalizações que a equipe de Ilan Goldfajn emitirá, em comunicado que será divulgado logo depois da decisão.
Investidores e analistas querem saber se o ritmo e o tamanho do ciclo de cortes serão afetados pela crise política, pela alta de impostos e pelas sinalizações de que outros tributos podem ser revisados para evitar que a meta fiscal seja descumprida.
No mercado, a maioria dos economistas estima que a taxa básica de juros (Selic) terminará o ciclo de cortes entre 7% e 8%. Na opinião do economista-chefe do Banco Haitong, Jankiel Santos, o processo de redução da Selic terminará em 8% ao ano.
Anteriormente, ele projetava o fim do processo de afrouxamento monetário em 9%. Essa estimava mudou, segundo Santos, diante da inflação declinante, da fraqueza da atividade econômica e das expectativas âncoras. “No entanto, avaliamos que o BC deve abster-se de testar níveis mais baixos de juros para minimizar a chance de ser forçado a reverter o processo como já foi no passado”, diz.
Os dados recentes mostram um ambiente de inflação baixa e expectativas ancoradas, com atividade apresentando sinais ambíguos, sugerindo retomada ainda gradual, mas cada vez mais abrangente, explica o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.
Conforme ele, embora, em teoria, as incertezas políticas pudessem ter efeitos ambíguos sobre a inflação, os últimos dados sugerem que o impacto tem sido, até o momento, predominantemente desinflacionário.
CORTES
Mesquita espera que a autoridade monetária indique, em comunicado depois do encontro, que a extensão do ciclo monetário e o ritmo de flexibilização dependerão das projeções e expectativas de inflação, da evolução dos dados de atividade econômica e de fatores de riscos, como o agravamento da crise política.
Ele revisou a projeção para a Selic no fim de ciclo para 7%, nível que espera ser atingido no primeiro trimestre de 2018. “Nosso cenário contempla, além do movimento de julho, reduções de 0,75 ponto percentual em setembro, de 0,50 em outubro e em dezembro, levando a taxa Selic para 7,5% no fim de 2017. E movimentos mais parcimoniosos no início do próximo ano de dois cortes de 0,25 ponto percentual, que levariam a taxa para 7%”, explica.
As dúvidas sobre as perspectivas de reforma levaram a uma discussão sobre o impacto para a política monetária, já que o BC condicionava o ciclo de flexibilização ao declínio das taxas de juros estruturais, avalia o economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, David Beker.
Entretanto, ele comenta que, embora sejam necessárias reformas para a sustentabilidade de taxas de juros mais baixas, a fraqueza da atividade econômica deve continuar a suportar o processo de queda de juros. “A dinâmica de inflação benigna combinada com um contexto de crescimento desafiador aumentou o peso que o BC dará à atividade”, afirma.